O Departamento Técnico da Agrovete elaborou um artigo para a Revista Ruminantes com foco nas metodologias que permitem melhorar a gestão do pastoreio.
Revista Ruminantes - Edição nº24 - janeiro | fevereiro | março 2017
"Gestão de Pastoreio – Uma abordagem prática
O pastoreio tem mais que se lhe diga que apenas colocar os animais no pasto. A pastagem como recurso e o seu consumo pelos animais fazem parte de um sistema muito maior e mais complexo, e devem ser geridas como tal.
Um planeamento do pastoreio permite ao agricultor ter uma abordagem organizada quanto à gestão do solo, planta, animais e recursos humanos disponíveis na exploração. As taxas de crescimento de erva e o seu consumo pelos animais não são constantes ao longo do ano, nem se mantêm inalteradas de ano para ano. É por esta razão que o planeamento do pastoreio é essencial para ir de encontro ao equilíbrio entre a disponibilidade de alimento e o seu consumo. O desequilíbrio entre estas duas variáveis levará inevitavelmente à ineficiência e aos prejuízos económicos consequentes.
Entre os benefícios de uma correta gestão das forragens, incluem-se o aumento do número de dias de pastoreio por ha com um aumento da sua eficiência, graças ao ajustamento entre a disponibilidade de alimento e o seu consumo. Adicionalmente, o planeamento permite precaver períodos secos, que obrigam a suplementar os animais com outros alimentos, muitas vezes vindos do exterior da propriedade. Quando existe um plano e se monitoriza de perto o seu desenrolar, os ajustamentos serão feitos sempre mais atempadamente.
A elaboração de um plano de pastoreio exige bastante pesquisa e organização. A primeira coisa a fazer é determinar qual o potencial de produção de pastagem e o respetivo encabeçamento. Sabemos à partida que podemos produzir pastagem durante um período limitado de tempo, mas idealmente o objetivo seria tentar estender este período aos doze meses do ano.
De seguida, o produtor deve analisar a dimensão e tipo do seu efetivo pecuário ao longo do ano. Mais uma vez, o objetivo é adaptar a política de produção à disponibilidade de alimento prevista. Como é óbvio, estes cálculos são feitos com base em médias de anos anteriores, pelo que se deve prevenir a possibilidade de as condições serem mais desfavoráveis, como acontecerá num ano de seca anormal.
O sistema de pastoreio pode ser definido como a maneira de conduzir os animais na pastagem, de forma a proporcionar-lhes uma dieta que lhes permita explorar da melhor forma o seu potencial produtivo, com vista à obtenção do máximo de produto animal por unidade de área pastoreada e por unidade de tempo. Idealmente, isto deve ser conseguido sem colocar em causa a renovação das pastagens.
Nas nossas condições climatéricas, o pastoreio rotacional adequa-se principalmente a pastagens de regadio, podendo no entanto ser praticado no sequeiro, principalmente durante o período de erva mais abundante. Neste sistema os animais pastam um dado parque durante um determinado período, deixando-o depois em descanso até que este se tenha regenerado, repetindo-se este procedimento pelos restantes parques da exploração.
Neste sistema os tempos de descanso devem ser de forma a permitirem que a pastagem rebrote até que seja possível um novo pastoreio. Os tempos de pastoreios devem ser curtos, não ultrapassando os 3 dias, havendo quem faça pastoreios de apenas umas horas. Os períodos de pastoreio e de descanso podem variar consoante a qualidade da forragem, de parcela para parcela, ou durante as épocas do ano devido às diferentes taxas de crescimento. Os períodos de descanso são principalmente influenciados pela intensidade do pastoreio anterior e pela altura mínima da erva que se pretende, sendo que a época do ano em que decorre a rotação tem aqui uma importância fulcral. No nosso clima, os períodos de descanso do prado, consoante a época, podem ir de 21 dias aos 45 dias.
Um caso prático – Sociedade Agrícola Fonte do Prior
Joaquim Mira (à direita na foto), responsável pela Sociedade Agrícola Fonte do Prior, começou a utilizar sistemas de pastoreio rotacional em 2014.
Na altura, recentemente convertidos para Modo de Produção Biológico com as condicionantes alimentares próprias deste modo de produção, e devido a um encabeçamento bastante elevado, viu-se obrigado a encontrar soluções para responder às necessidades alimentares da vacada. A solução encontrada for experimentar o pastoreio rotacional! Num pivot de 12 ha, semeado a 17 de Setembro com uma mistura para cortes sucessivos, o primeiro corte, de limpeza, foi efetuado por 50 novilhas e dois touros num parque de 1,2 ha. Para surpresa do agricultor a área revelou-se demasiado grande para os 52 animais, que acabaram por passar 3 dias nesse mesmo parque. Isto levou a que a área dos parques seguintes fosse de cerca de 0,5 ha, para um pastoreio de 2 dias. Na primavera o agricultor chegou a ter 290 CN em 1,5 ha/dia.
O ano passado este sistema de pastoreio foi utilizado de Novembro de 2015 a Junho de 2016. No final deste período ainda foi possível fazer uma sementeira de milho e, noutro pivot em que se utilizou o mesmo sistema de pastoreio, foi produzido girassol para silagem.
Joaquim Mira ressalva que o maneio deste sistema relativamente à área de cada parque, dias de pastoreio/repouso dos parques, decisão de entrada ou não no pivot após dias de chuva, depende um pouco da observação diária e do bom senso. Todos os dias, de manhã, se abre a porta para os animais acederem aos parques, retirando-os no final do dia para uma área onde pernoitam. Têm sempre acesso a palha à descrição e água.
Este ano, o pivot está a ser dividido em parques de 0,5 ha, que cerca de 50 CN pastoreiam por cada dois dias, permitindo um período de descanso de 48 dias. Com este sistema, o agricultor estima que, até meados de Junho, os animais consigam fazer 4 cortes no pivot. Tendo em consideração as contas do ano anterior, a alimentação animal neste sistema é bastante mais económica se compararmos com a suplementação. Em relação a necessidades de mão-de-obra, o agricultor refere que a operacionalização do sistema é bastante fácil e demora apenas 15 a 30 minutos por parque/dia.
Na opinião de Joaquim Mira, este sistema é bastante mais barato que a suplementação, permite um melhor aproveitamento das áreas de pastoreio conjugando o regadio com o sequeiro, promove uma fertilização natural com o consequente aumento da matéria orgânica do solo, e com a habituação diária os animais tornam-se muito mais doceis, facilitando o maneio. Para além disso há que contabilizar as poupanças inerentes ao facto de não haver custos com corte e conservação de forragens.
Fora dos pivots, nas restantes cercas da exploração, o agricultor tem praticamente todos os parques interiores da exploração divididos com cercas elétricas fixas com 3 fiadas de arame. Nas cercas exteriores, apesar de serem de rede, tem uma fiada elétrica de proteção.
A importância das vedações na gestão de pastoreio:
As cercas elétricas revolucionaram as técnicas de gestão de pastoreio. Sistemas de cercados fixos ou amovíveis são hoje muito utilizados para subdividir pastagens, permitindo um pastoreio mais eficaz, uma vez que mantêm a erva fresca, curta e mais palatável, o que leva a melhorias na produtividade animal.
No caso concreto do pastoreio rotacional, pretende-se uma vedação fácil de instalar, amovível, de baixo custo e com uma eficácia muito elevada, de forma a evitar que os animais ultrapassem os limites do parque. É aqui que as vedações eletrificadas se revelam de máxima utilidade. Efetivamente, são a forma mais barata, eficaz e portátil de fazer as vedações temporárias necessárias a um sistema de pastoreio rotacional. Através da utilização de postes móveis, enroladores de fio ou corda e de eletrificadoras solares, é possível fazer qualquer divisão de parques que se pretenda, sem que seja necessário comprometer a operacionalidade da parcela.
A Gallagher aconselha o sistema de pastoreio rotacional como a melhor forma de obter a máxima produtividade da pastagem. Como benefícios principais deste sistema podemos apontar aumentos consideráveis de eficácia na produção de erva e na manutenção da mesma, assim como a flexibilidade de adaptação da área de pastagem que é permitida pelo uso de cercas elétricas móveis. A subdivisão dos parques e a utilização de uma elevada densidade animal garante que a pastagem é cortada uniformemente até à altura residual ótima, o que contribui significativamente para a eliminação de infestantes e para a renovação de um pasto vigoroso com altos níveis proteicos e energéticos. A utilização de vedações eletrificadas móveis permite ao produtor adaptar o tamanho dos parques por forma a poder maximizar o seu aproveitamento.
As cercas elétricas Gallagher garantem uma contenção segura dos animais e são a opção mais económica. A Gallagher oferece soluções para todas as espécies e tipos de produção, inclusivamente para a proteção de culturas contra a devastação causada por animais selvagens, como os Javalis.
A Agrovete, na qualidade de representante em Portugal da Gallagher, marca líder mundial em cercados eletrificados, tem como objetivo oferecer aos seus clientes as melhores soluções para as vedações das suas propriedades e culturas."
Agradecimentos:
Joaquim Mira, Sociedade Agrícola Fonte do Prior
Nuno Silveiro, Filmagens Aéreas
20-01-2017